Lélia Gonzalez e a categoria da Amefricanidade

No dia 25 de julho foi comemorado o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. A data surgiu a partir de uma conferência realizada pela ONU, em 1992, na República Dominicana. O objetivo foi discutir a questão da violação de direitos dessas mulheres (TRISTAN, 2020). Neste contexto, nós do GENPOSS gostaríamos de lembrar Lélia Gonzalez, intelectual negra brasileira que questionou a ideia de democracia racial, evidenciou o eurocentrismo de nossas produções acadêmicas, colocou em primeiro plano a discriminação sofrida pelas mulheres negra e pobres e elaborou o conceito de Amefricanidade.
Lélia Gonzalez nasceu em 1935, em Minas Gerais, mas migrou com a família ainda na infância, em 1942, para o Rio de Janeiro. Nasceu em uma família numerosa e de origem pobre (seu pai era ferroviário e sua mãe dona de casa), mas teve a oportunidade de estudar devido ao fato de ter sido uma das filhas mais novas. Cursou História, Geografia e Filosofia onde hoje é a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), foi professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC), atuou no Movimento Negro, no Partido dos Trabalhadores (PT) e posteriormente, no Partido Democrático Trabalhista (PDT) (BARRETO, 2018; GONZALEZ, 2018).
O conceito de Amefricanidade foi elaborado pela autora na década de 1980, quando, para entender a questão do racismo, a autora passou a tomar como referência a contra colonialidade e a psicanálise. A Amefricanidade é uma categoria que explicita que o centro da América não são as culturas estadunidense e europeia. A autora evidencia as influências majoritárias das culturas originárias da África e das culturas indígenas na linguagem, nas religiões, nas festas, dentre outros fatores. Lélia Gonzalez propõe o reconhecimento dessa influência por meio de um reordenamento afrocentrado, que vai de encontro ao processo de embranquecimento, processo por meio do qual o racismo por denegação se expressa (GONZALEZ, 1988).
Assim, ressaltamos que a luta contra o racismo parte da desmistificação da ideia de democracia racial, a qual tem por objetivo evitar o reconhecimento e a reparação que lhe é inerente. Nesse sentido, em meio a um contexto em que as mulheres negras continuam a ser alvo de maior violência, gostaríamos de ressaltar a importância de Lélia Gonzalez, autora que as colocou em primeiro plano e que mostrou como, longe da resignação e subalternidade, essas mulheres tiveram um papel ativo na luta contra o processo de escravização e de disseminação da cultura afrocentrada (como pode ser visto na figura da mãe preta).

Referências
GONZALEZ, Lélia. A categoria político-cultural de amefricanidade. In: Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro, Nº. 92/93 (jan./jun.). 1988b, p. 69-82.

______. Lélia Gonzalez: um depoimento.  In: GONZALEZ, L.. Primavera para rosas negras. [S. L.]: Diáspora Africana: 2018.

BARRETO, Raquel. Lélia Gonzalez: uma intérprete do Brasil. In: GONZALEZ, L.. Primavera para rosas negras. [S. L.]: Diáspora Africana: 2018.

TRISTAN, Jennifer. Dia da mulher negra latino-americana e caribenha. 25J: mulheres negras têm história! Esquerda Diário, São Paulo, 25 de julho de 2020. Disponível em: https://www.esquerdadiario.com.br/25J-mulheres-negras-tem-historia?amp=1&gclid=Cj0KCQjw0JiXBhCFARIsAOSAKqCyZRlLDPn3C5DbXTK2piNkGCkUmP1i8gUmHjiHea3bvPxMzW2ypAEaAqQpEALw_wcB. Acesso em: 23 de julho de 2022.

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